Como ser bonita sendo feia
Eu só quero uma coisa de 2023: ser bonita. Aqui eu conto como eu pretendo fazer isso.
Dois ou três anos de pandemia, depressão, Brasil (e Bolsonaro) e estresse e eu embaranguei. Embaranguei de tal forma que, com toda a sinceridade do meu coração, eu ficaria satisfeita se eu pudesse não ser vista por mais ninguém. Nunca mais sair de casa. Nunca mais dar uma aula online com a câmera aberta.
Não que eu já tivesse sido grandes coisas. Nunca fui. Bonitinha foi meu máximo. Algumas pessoas estão fadadas ao diminutivo. Eu, no entanto, sou grande apreciadora de diminutivos. Uso em perigoso excesso, inclusive. Ser bonitinha, então, está totalmente alinhado comigo.
O problema é que não dá mais pra ser uma mulher bonitinha depois de tanto descuido, vamos dizer assim. Ainda que eu tenha ficado bastante preocupada com a minha aparência nesses anos o resultado indica que toda essa preocupação esteve, no mínimo, mal direcionada.
Identificando o problema
Estou acabada. Nunca antes estive tão feia. Nunca antes foi tão difícil olhar pro espelho. E eu sei que eu não sou a única. Esses anos em casa, essas mudanças de rotina, esse desespero que se apoderou da gente… Essas coisas não passam pela nossa vida sem deixar alguma marca né?
O problema tá aí, pra qualquer um ver. Estou feia. Me acho feia. Me sinto feia.
E pensando de forma mais objetiva, talvez sejam vários os problemas. Não ser bonita não deveria ser, imediatamente, um problema. Eu sou muitas coisas. Todo mundo é muita coisa, na verdade. Ninguém é apenas um adjetivo. Eu poderia não ter bonita na minha lista, mas me contentar com o resto. Mas a verdade é que nasci mulher em uma sociedade que não cansa de apontar que ainda que eu seja mais um punhado de coisas, preciso ser bonita.
O problema, de verdade, é que acredito que enquanto não for bonita não merecerei ser amada. E talvez essa seja uma das coisas mais humanas que posso dizer sobre mim: eu quero ser amada (e desejada, e apreciada, e admirada.. não sei exatamente a palavra certa para colocar aqui).
Desenvolvendo uma solução
Bem, depois de identificar minha própria feiúra, decidi que queria ser bonita. Meu primeiro passo foi colocar uma única grande meta para 2023. Se em 2022 eu consegui minha promoção para a piscina de adulto, o que me impede de conseguir realizar a meta para o próximo ano, não é mesmo?
Meta para 2023: ser bonita.
Houve alguma discussão interna sobre ficar ou ser bonita. Mas acabei escrevendo um ser. Mais que ficar bonita, eu preciso permanecer bonita. Tanto e de forma tão constante que eu passe a SER. E, portanto, mereça ser amada de verdade.
Agora eu preciso dar meu segundo passo: descobrir o que caralhos significa ser bonita.
Ser bonita?
Antes de traçar um plano eu preciso saber onde quero chegar. E essa é a parte mais doida de toda essa jornada. A primeiríssima coisa que fiz foi ir no google millenial: o twitter. Perguntei o que eu deveria fazer para ser bonita. Recebi ótimas respostas. Algumas mais detalhadas, outras menos. Alguns elogios e algumas pessoas se sentindo da mesma forma.
Organizei tudo. Refleti bastante sobre elas. Uma das respostas apontavam os dentes. Achei engraçado: nunca antes me dei conta do tanto que me senti mais bonita desde que preenchi meu diastema (aquele espacinho entre os dentes da frente). Outras respostas falavam mais de pele. Foi minha maior reclamação e meu maior aprendizado com as indicações.
Mas infelizmente não resolveria totalmente. Precisaria saber melhor qual das dicas priorizar. Qual plano traçar para mim.
Então eu fui estudar. E aqui não esperem nenhuma grande indicação sobre beleza porque realmente não sei. Tudo que aprendi, de verdade, é que beleza é, definitivamente, um assunto difícil demais.
Dá pra falar disso neurologicamente, biologicamente, psicologicamente, psicanaliticamente, historicamente, sociologicamente, filosoficamente… Da história da simetria a loucuras eugênicas. Beleza é um tema muito complexo pra minha cabecinha de exatas.
Estudar o que pensam os filósofos ou os esteticistas não estava me levando a lugar algum. Eu ainda não sabia o que é ser bonita. Então olhei pra dentro.
Escrevi uma primeira versão da newsletter falando sobre um passado de anorexia, contando minhas calorias, e depois fazendo anotações sobre meu período mais sombrio dos últimos tempos. Chorei bastante lembrando de toda a ansiedade que sinto cada vez que vou sair de casa para encontrar alguém. Pensei muito em como hoje, depois de pintar o cabelo no espírito “ano novo vida nova” eu mal consegui me olhar no espelho sem me sentir horrível.
E aí acho que finalmente consegui. Juntando as dicas, os estudos, a choradeira. Eu tracei um plano para ser bonita em 2023. E vou aqui dividir com vocês.
Plano para a beleza definitiva em 2023 em cinco passos
Eis então meus cinco passos para a beleza vir em 2023. São meus, pra mim. Mas pode servir pra alguém.
5. Fazer exercícios físicos regularmente
Já faço, é verdade. Mas eu faltei em muitas aulas de natação esse ano, deixei e bicicleta ergométrica mais parada (mas não virou cabide) e abandonei a yoga. Não dá mais. A gente sabe já: exrecícios físicos, sono e alimentação saudável e uma vida sem stress. É segredo so sucesso, da beleza, de todos os problemas do mundo. Se todo mundo seguisse isso não haveria guerra, não haveria desigualdade, não haveria aquecimento global.
4. Fazer as pazes com a comida
Ta ali na “solução para todos os problemas do mundo” mas a questão é que ser mulher e ter uma relação saudável com a comida é difícil a beça. Agorinha mesmo eu passei pelo instagram e desviei de pelo menos dois conteúdos de detox de açúcar. Detox de açúcar, sabe. Meu processo de começar a lidar com minhas tretas com comida começou com a Luiza (a das couve) em 2021 e foi suspenso por questões. Não sei ainda quando poderei voltar, mas assim que as contas permitirem, eu volto sim.
3. Fazer muitos nada
Uma das minhas características mais marcantes é que eu to sempre exausta. Sempre ocupada. É uma demanda quase que natural da vida no mundo capitalista né? Que valor você tem se nao está “sendo útil” o tempo todo? Que em 2023 o passo seja mais lento e eu possa simplesmente fazer nada. Não é descansar, que é importante também. Mas é literalmente fazer nada. Não ter compromisso ou obrigação. Deixar a cabeça voar um pouquinho, arejar.
2. Evitar o casulo
Gente feliz é gente bonita. E eu preciso de gente pra ser feliz. Talvez seja um dos problemas de ser extrovertida. Mas evitar o casulo quando as coisas apertam, pedir mais ajuda, dar mais abraços.
1. Ser gentil
Essa é a parte mais difícil. Ser bonita tem a ver com esse merecimento de amor, atenção e carinho que particularmente não me acho digna. Já pensei bastante em quais metas alcançáveis faria com que me considerasse merecedora. Barriga chapada? Pele lisinha? Bundão? A verdade é que nada disso resolveria.
Talvez, então, eu precise treinar um olhar mais gentil pra mim. Que mesmo que eu não consiga me olhar no espelho agora eu lembre que tá tudo bem.
Essa news ficou pessoal demais e dum jeito que, particularmente, não gostei. Mas ta aí, POSTA NO MUNDO. Que em 2023 sejamos mais gentis conosco e com os outros. A gente merece isso 🙂
Eu gostei demais do que você disse sobre "fazer vários nadas". Já disseram de mim que "a Ana no vácuo arranja alguma coisa para fazer". Estar ocupada é o meu estado natural. Isso é minha personalidade? Uma neura proveniente do ambiente familiar? Ou é só o capitalismo mesmo? Mas tem uma hora que cansa. Os 2 ou 3 sábados (no ano inteiro!) que eu não tinha nenhum plano - nenhum trabalho atrasado, nenhum rolê marcado - foram relaxantes de um jeito excepcional. (E também estou precisando regularizar o exercício. Eu até ando bastante, mas como parte da rotina, não como uma atividade física consciente)
Marina, queria dizer que duas dicas me ajudaram a pensar sobre minhas próprias questões com o espelho. Sua top 1 é a minha também. É a mais difícil, na minha opinião, mas eu vou tentar exercitar bastante em 2023. E se precisar, eu te ajudo a lembrar da meta. Vamos alcançar a meta, passa dobrar a meta.
Beijos e feliz 2023 para nós ❤️😘