Vulcões e problemas que parecem cair do céu
Eu não sei onde esse texto vai chegar, mas me acompanhe nessa aventura.
O problema
Dia desses uma amiga lindíssima, a Taimã, veio fazer me uma pergunta muito importante. Saibam, amigos, que eu sou uma pessoa que pode ser sempre procurada para perguntas importantes, feito essa.
A pergunta importante dela tem a ver com uma cena relevante em Os Anéis de Poder. Então se você não quer saber do que acontece em algum momento da primeira temporada, recomendo que não leia essa news. Também recomendo que entenda que eu vou utilizar uma cena e isso é tudo. Eu não sei absolutamente nada deste universo de O Senhor dos Anéis e provavelmente seguirei não sabendo.
Em algum momento da série (que eu não sei qual é) uma represa é destruída e a água encontra caminho por alguns canais que a leva para um vulcão. E como é muitíssima água, o vulcão rapidamente responde com uma explosão violentíssima. Um montão de pedras flamejantes começam a ser lançadas nas pessoas que estão ao redor (numa cidade? povoado? bairro? vila?). Muitos correm pra se salvar, alguns até são atingidos, mas Galadriel fica imóvel olhando para o desastre acontecendo, tranquilona, mó paz, sem se mover. Você pode ver a cena que eu acabei de descrever neste link.
Aí Taimã me lança a pergunta: o que é melhor, correr e correr o risco de ser atingido enquanto corre ou ficar parada e correr o risco de ser atingida paradinha?
As reflexões
Eu não sou vulcanologista, vulcanóloga, vucano-entendida então comecei a pesquisar do jeito mais preguiçoso de todo: como eu transformo isso num problema que eu conheço? A solução foi pensar em coisas caindo do céu e atingindo pessoas.
A primeira coisa que veio a minha cabeça foi aquele problema do andar vs. correr na chuva. O Mythbusters fez um teste pra ver qual seria o caso mais molhante, mas não levanta a probabilidade de ser atingido por uma gotinha. Tem também esse vídeo ótimo do minute physics que resume bem: para o mesmo tempo de exposição, não importa se você está correndo ou andando.
Isso porque vamos imaginar a chuva como um monte de gotinhas caindo numa extensão com a mesma taxa de caimento, quando você anda (ou corre) você está deixando de ser atingido pela gotinha naquele ponto, mas sendo atingido pela gotinha do passo seguinte. Então, no fim das contas, o que vai importar mesmo é o tempo que você está na chuva. Quanto mais tempo, mais chuva vai te molhar. Então melhor correr para ficar menos tempo disponível pras gotinhas.
No nosso caso, no entanto, temos algumas diferenças bem básicas: não estamos falando de chuva, e sim de… de quê mesmo?
Achei melhor fazer uma pausa aqui e ir atrás do nome dessas coisas: bombas vulcânicas (volcanic bombs) ou blocos vulcânicos (volcanic block). Esses dois são, no fim das contas, coisas (com mais de 64mm de diâmetro) lançadas pelo vulcão. Essas tais coisas podem ser um punhadão de magma que vai se solidificar (ao menos no exterior) antes de tocar o chão, caso das bombas, ou podem ser, já de saída, uns pedrão sólido mesmo, caso dos blocos.
E existe limite minimo de tamanho (os 64mm de diâmetro) mas não existe limite máximo. Não é comum, no entanto, que tenhamos blocos ou bombas com metros e metros de diâmetro, e, também por conta do tamanho, elas não costumam ir muito longe. Mas achei um bombão especificamente curioso que tinha 5m de diâmetro: a bomba de lava de Strohn (que tá . Descobriram depois de anos que essa bolotona era tipo uma bola de neve que saiu rolando e aumentando no caminho. Uma bola-de-lava!
Enfim, voltando às nossas bombas e blocos, o que temos de essencialmente diferente da chuva uniforme e homogênea pensada anteriormente é que quanto mais distante ficamos do vulcão, menor a probabilidade de sermos atingidos. Então…
A resposta
Corre.
Pega um cavalinho e vai pra longe do vulcão.
Num estudo maneiríssimo que achei, até 5km a principal causa de fatalidades é o que eles chamaram de ballistics, que na nossa definição aqui, eu entendi que são equivalentes a pequenos-blocos, são um material de poucos centímetros mesmo. E é o E mata pela pancada direta mesmo.
Entre 5 e 15 km a você já precisa ter medo é do fluxo piroclástico (pyroclastic flow) que é formado por gases quentes e material particulado. Esses fluxos podem chegar a faixa de 100km/h, o que dificulta um pouquinho a fuga correndo, ou de cavalinho. Já seria melhor pegar um carro nessa.
Acima de 15 km você ainda pode morrer por conta de tsunamis, lahars (uma espécie de tsunami de lama vulcânica) ou tephra (material particulado — de tudo que é tamanho).
Então a dica é: corre.
Quando tem problema “caindo do céu” ficar parada não vai te ajudar.